quarta-feira, 31 de agosto de 2011

SUS perde controle de informações

União reconhece que pacientes que dependem do sistema público são prejudicados pela falta de integração e atualização de dados

Um dos maiores sistemas de saúde do mundo, o SUS — criado há 23 anos para abranger de atendimento laboratorial a transplantes de órgãos, e atender gratuitamente a todos os brasileiros — padece de um mal que atinge várias áreas do setor público: a falta de atualização e integração de bancos de dados.

O DataSUS, que reúne os sistemas de informação do SUS, tem “de 25 a 30 sistemas estruturantes e falta comunicação entre todos”, de acordo com Augusto Gadelha, diretor do Departa­­mento de Informação do SUS. Na internet, o site do DataSUS mostra, por exemplo, sete sistemas na categoria Hospitalares, cinco na categoria Epidemiológicos e outros sete em Cadastros Nacionais.

“Alguns poucos sistemas falam ao CadSUS [Cadastramento Nacional de Usuários do Sistema Único de Saúde] e, por isso, estamos unificando os cadastros, o que vai evitar, por exemplo, que um mesmo dado conte duas vezes. O ministério reconhece que o cidadão é prejudicado pela falta de integração”, diz Gadelha.

Enquanto não muda, há quem espere anos por um exame. Foi o caso de Luzia da Silva, 55 anos, que levou 11 para fazer um cateterismo no Rio de Janeiro. “Se fosse grave, caso de morte, eu já tinha morrido, né?”, diz Luzia, que teve o primeiro pedido feito em 2000 e só realizou o procedimento em fevereiro. “Não tinha vaga, eu ficava angustiada. Agora, depois do exame, consegui fazer a angioplastia e é vida nova.”

No Rio, a central estadual de regulação de leitos hospitalares ainda entrega aos médicos pedidos via fax. Em um plantão de 24 horas, cada um recebe em média 300 pedidos para internação em CTI. Muitas vezes conseguem vaga para duas ou três pessoas, no máximo. “O sistema é precário. Não temos ordem de prioridade; então, não sabemos que doente precisa mais do leito”, conta um médico que trabalha na central e não quis ser identificado.

Sem cadastro on-line

Ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), José Jorge diz que o Ministério da Saúde “ainda está na década de 80”. “O DataSUS não tem cadastro on-line integrado e atualizado. O problema é que o SUS repassa, todo ano, cerca de R$ 50 bilhões para estados e municípios. Qual o acompanhamento regular da execução dessa verba?”, questiona Jorge.

O TCU identificou, em julho, 9 mil casos de internações ou procedimentos de alta complexidade feitos após as datas dos óbitos dos pacientes. Os pagamentos realizados pelo SUS foram de mais de R$ 14 milhões. “Com­­paramos registros de internações com os de óbitos e vimos que havia muito morto sendo internado para operar”, conta o ministro.

José Jorge fala que o SUS tem um “bocado de cadastro antigo junto”. Exemplos estão no Acórdão 1.274/2010. Nele, o TCU aponta falta de atualização num dos principais cadastros do SUS, o Cadastro Nacional de Estabe­­lecimentos de Saúde (CNES). O tribunal diz que, em 2009, “do total de cerca de 200 mil estabelecimentos registrados, foram constatados 13.403 registros de estabelecimentos que não atualizaram o CNES Nacional nos últimos seis meses”. Além disso, 1.016 estabelecimentos públicos e 400 estabelecimentos privados prestadores de serviços ao SUS não tinham, então, atualizado os dados por período superior a dois anos.
 
Agência O Globo 

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