domingo, 6 de novembro de 2011

O PARADOXO DA SAÚDE – Os brasileiros dizem pagar impostos demais – mas aceitam outro, se for para a saúde


RICARDO MENDONÇA

A maioria dos brasileiros entende que a carga tributária do país é “muito alta” e 62% acreditam que os pobres pagam mais impostos que os ricos. Seria razoável imaginar, portanto, que a maior parte da população repelisse qualquer hipótese de criação de mais um imposto. Mas não é o que ocorre. Para surpresa até do dono do instituto que fez a pesquisa, 51% dos brasileiros afirmam que aceitariam a criação de um novo tributo no Brasil, desde que os recursos fossem usados exclusivamente na saúde.

Quanto mais pobre, maior a percepção de que os pobres pagam mais impostos – e maior, também, o nível de apoio à criação do novo tributo. Entre os que ganham até dois salários mínimos, 66% dizem que pobres pagam mais. Nesse mesmo grupo, 55% são a favor de um novo imposto para financiar a saúde. Como se explica o paradoxo?

“No primeiro momento, fiquei surpreso com esses resultados. Como alguém pode querer mais imposto?”, diz o cientista político Antonio Lavareda, dono do Instituto MCI, a empresa que fez a pesquisa de satisfação com a vida para ÉPOCA (leia a reportagem sobre o otimismo do brasileiro). “Mas depois, refletindo melhor sobre outros dados da pesquisa, vi que faz sentido.” A explicação, segundo Lavareda, é o desalento da população com a situação da saúde. “O problema da saúde no Brasil é tão grande, mas tão grande, que as pessoas até topam pagar mais para o governo se for para resolvê-lo”, diz. “Como os pobres são os que mais dependem do sistema público de saúde, a aceitação de um novo imposto exclusivamente para a saúde é maior entre eles. Tem lógica.”

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Na pesquisa MCI, a saúde aparece como a maior preocupação dos brasileiros, à frente de criminalidade e corrupção. Os entrevistados foram convidados a apontar o maior e o segundo maior problema do país. Na soma das respostas, saúde foi citado por 52% das pessoas.

Nas perguntas sobre corrupção, outro tema atual, os resultados são mais previsíveis. Como era de esperar, a maioria acha que a corrupção é maior hoje que antigamente. “Isso será sempre assim. Tem a ver com o noticiário, a divulgação constante de denúncias, desvios e operações da Polícia Federal”, diz Lavareda. Apesar da onda de demissões no governo após denúncias de corrupção, movimento batizado por alguns como “faxina da Dilma”, a maioria vê a presidente como alguém apenas razoavelmente empenhada em combater a corrupção. “É um tema tão negativo que o ‘razoável’, nesse caso, pode até ser considerado um dado positivo para Dilma”, diz Lavareda. “No imaginário geral, políticos não costumam ter preocupação alguma com o combate à corrupção. Ela é ‘razoável’.”

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