segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Possíveis erros do atual governo federal


por Gustavo Gusso, Professor de Atenção Primária à Saúde da Universidade de São Paulo

Padilha rima com muita coisa mas o que me vem a cabeça é armadilha. A principal armadilha que o atual Ministro armou para si foi se lançar de vez na carreira política através de um Ministério muito complexo. O SUS é um adolescente rebelde muito mais difícil de controlar do que há alguns anos quando tudo estava sendo estruturado e havia espaço para a saúde suplementar crescer paralelamente ao serviço público. Cada vez mais o cerco vem se fechando.

Em entrevista a Oto Lara Resende, quando perguntado o que sugeriria aos jovens, Nelson Rodrigues não titubeou: “envelheçam!!!”. O problema em geral é ter mais energia que condições de realização. Quando isto acontece há um descompasso entre as velocidades e a chance de erro aumenta. Não há como mudar o rumo de um sistema de saúde como o SUS sem financiamento. É condição sine qua non. Enquanto muitos criticam que a gestão anterior não foi “realizadora” eu diria que foi pois conseguiu manter o sistema vivo e competitivo com pouco recurso. Houve sim um desfinanciamento na atenção básica e há uma intenção de correção, mas esta deveria ser feita através do PAB fixo principalmente, o que ainda não ocorreu.

De qualquer forma, a atual gestão entrou em campo muito motivada, trocou quase todos os jogadores, o time está com fôlego renovado e só. Como se diz na gíria futebolística “o trabalho ainda não se refletiu em resultados”. Há três pontos muito delicados que podem ajudar a explicar o panorama relativamente confuso:

1. O Ministro apesar de oriundo da área da saúde está claramente iniciando uma carreira política e cobra resultados imediatos

2. Para obter resultados, ao menos políticos, o Ministério tenta agradar os prefeitos com flexibilizações modificando a função que vinha exercendo de norteador e regulador das políticas. Como no sistema municipalizado o prefeito representa o consumidor final, a resultante é se render mais ao mercado.

3. No campo técnico os resultados imediatos vêm da ênfase nas políticas verticais como hepatites, dengue, materno infantil, etc.. Não há pudor em chamar políticas verticais como urgências e “cegonha” de “redes” através de um claro truque semântico

Ou seja, na verdade não é uma, mais muitas armadilhas que se colocam. A formação do Ministro é traiçoeira, pois embora seja da área da saúde (foi um excelente residente de infectologia como muitos dos seus professores atestam) sua atual carreira é exclusivamente política. E como todo político tem que ser bem assessorado, o Ministro Padilha escolheu uma verdadeira seleção brasileira para o secretariado, e este foi o maior acerto por enquanto.

Porém, além de confiar na sua assessoria e esquecer um pouco o tempo de infectologia para evitar agudização da verticalização, o Ministro precisa de apoio principalmente da Presidenta. Ela já acenou com a recriação do imposto, mas de forma vacilante. Provavelmente os movimentos pela mobilização de mais recursos, através de novo imposto ou não, serão a bússola da atual gestão do Ministério da Saúde. Tudo leva a crer que haverá muita oscilação até que se encontre um rumo que consiga voltar a empolgar as pessoas como ocorreu nos primeiros anos do SUS. Oxalá sobre energia para quando este dia chegar.

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